terça-feira, 8 de janeiro de 2008

"É magia... Não temos de explicar nada!"

Sabe, por muitos anos (coloque aí duas décadas) eu acompanhei histórias em quadrinhos da Marvel. Mais especificamente do homem-Aranha. Antes mesmo de saber fazer mais do que folhear as páginas, ver os desenhos e ignorar os balões de diálogo, eu sabia que ali tinha algo que mudaria minha vida, que aquele super-herói que não usava cueca por cima das calças tinha algo a me oferecer. Aprendi a ler de forma continuada e aprendi muito com o personagem de Stan Lee e Steve Ditko. Aprendi que "Grandes Poderes Trazem Grandes Responsabilidades", aprendi a ser uma pessoa digna, uma pessoa honrada, bem humorada. Aprendi a ser um homem de bem. Chamo Peter Parker de "Pai". Acompanhei seu crescimento: li as histórias sobre suas humilhações nos colégios, como manter segredos que podem prejudicar os outros, sobre como lidar com amigos com problemas sociais (crime, drogas, família,...), vi que não devemos enfiar a cabeça em aparelhos estranhos e pensar numa roupa nova, pegar uma bolinha preta e aceitar um uniforme que atende nossos pensamentos e que produz sua própria teia, aprendi que não é bom ficarmos perto de sinos em plena badalada de hora (podemos ficar nus com isso), que devemos insistir três vezes com a mulher que amamos para casarmos com ela, que pessoas que morrem podem ter clones e maquinar todo um esquema de vingança pra te prejudicar, que você pode ter clones que nem imaginava ter (hoje em dia, clones nós fazemos até na panela de pressão), que filhos devem ser vigiados desde o momento em que sai da barriga da mãe, se não neguinho diz que eles nasceram já mortos, quando na verdade foram abduzidos por uma sociedade secreta...


Isso seria legal (seria?), se não existisse um homem... Não, um homem não. Uma criatura abissal chamada Joe Quesada, editor-chefe da Marvel Comics. Sob sua batuta, J.M Straczynsky ( o cara era o promissor roteirista da telessérie Babylon 5) escreveu uma série de absurdos, como Peter começar a produzir teias orgânicas (maldito seja o ótimo filme de 2002 - o pessoal não consegue entender que cinema é cinema e Hq é HQ), que seus poderes não são um acidente científico (aquele lance de aranha radiativa picar Peter por estar no lugar errado, na hora errada, conferindo-lhe poderes), mas sim algo espiritualmente premeditado pela aranha (sic), que era um portador totêmico do poder ancestral da aranha (sic²), que um protetor mais "digno" aparecesse pra reivindicar este poder,... Depois foi só tragédia: Guerra Civil, registro de heróis, Peter revela sua identidade secreta ao mundo, vira o "Robin" do Homem-de-Ferro (com direito a armadura-aranha), fica contra vários ex-amigos, coloca Tia May (velha maldita) e Mary Jane (sua esposa) em perigo após mostrar a cara publicamente, filhos gêmeos de Gwen Stacy vitaminados aparecem (Gwen é o antigo amor de Peter que morreu na ponte George Washington, meio morta por Norman Osborn/Duende Verde - que a arremessou de lá - e meio morta por Peter - que a segurou pelo calcanhar com uma teia, deslocando seu pescoço e a matando), gêmeos esses que são filhos de Norman Osborn (sic³).


Por que tanto ódio a Quesada? O puto depois de fazer tanta merda, cismou que o casamento de Peter e Mary Jane diminuiam a empatia com o público e impedia Peter de ter ótimas aventuras. Caô, papo furado! Quer mais empatia com um herói que erra, que sofre, que casa... enfim, que comete ações que nós, humanos, cometemos? Não mete essa! Aí sabem o que o puto faz? Elabora uma trama em que Tia May toma um pipoco e nem o Dr. Estranho - só o mago mais fodiola da Marvel - pode ajudar. Aí, Peter dá uma de Ozzy Osbourne e faz um pacto com o Capiroto - Mephisto - pedindo para que ele recupere a vida de Tia May (velha maldita²) e, em troca, ele dá o que Mephisto desejar. O Rabudo exige todo o período de casamento dele com a MJ (!?!). Peter tem um dia pra discutir com MJ sobre isso e acaba que a vontade de Quesada é feita - Peter e Mary Jane aceitam o acordo. Quesada separou os dois, como sempre quis. Ele deve estar pulando em seu colchão d'água neste momento, comemorando seu desejo infantil. Quando questionado pelos fãs como ele justifica tudo isso, ele simplesmente disse "É magia... Não temos de explicar nada." Isso gerou, inclusive, uma linha de camisetas, chaveiros e imãs de geladeira. Essa frase é o símbolo de que a indústria dos quadrinhos tende a ser repudidada mesmo como indústria séria... Olha a justificativa deles...


E assim os ensinamentos se tornam levianos, pois tem um "quê" de magia. Tudo que sabemos, tudo o que somos, tudo o que fazemos... Nada disso precisa ser explicado, pois tem "magia" envolvida. Obrigado, Quesada, por me ensinar essa lição e estragar toda a minha vida...

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